sábado, 8 de setembro de 2007

Tristeza não é doença

Sociólogo americano diz que a psiquiatria transformou um sentimento normal em um problema médico

O livro lançado pelo sociólogo americano Allan V. Horwitz, nos Estados Unidos em julho, - The Loss of Sadness: how Psychiatry Transformed Normal Sorrow into Depressive Disorder (A Perda da Tristeza: como a Psiquiatria Transformou a Tristeza Comum em Desordem Depressiva) - em parceria com o psiquiatra Jerome Wakefield, é um alerta sobre o que considera um excesso de diagnósticos de depressão.
Em entrevista à revista Época , Horwitz fala da irresponsabilidade atual dos médicos em considerar qualquer quadro de tristeza como sendo depressão. Explica ele que segundo o manual de diagnósticos da psiquiatria (DSM-4), se cinco sintomas de uma lista de nove durarem mais de duas semanas, os médicos concluem que há depressão. São eles: perda do humor; perda de interesse por atividades prazerosas; ganho de peso ou perda de apetite; insônia ou excesso de sono; agitação ou apatia; cansaço; sentimento de culpa e baixa auto-estima; dificuldade de concentração e de decisão; pensamentos recorrentes sobre morte ou tentativa de suicídio. No entanto, a brevidade das consultas psiquiátricas e a facilidade com que os médicos cedem às vontades dos pacientes relacionadas a ingestão de detrminados antidepressivos, tem feito engrossar exageradamente os números da Organização Mundial de Sáude para as pessoas que hojem sofrem de depressão (estimativa: 121 milhões de pessoas ). Horwitz, em seu livro, deseja alertar para o fato de que é impossível vivenciar determinadas frustrações ao longo da vida - e todos nós sofremos muitas, inevitavelmente - sem sentir tristeza, desânimo ou variações de humor. Aceitar a tristeza como parte do processo de uma perda ou situação opressiva é muito mais saudável que entupir-se de antidepressivos que, tomados sem real necessidade, podem prejudicar e muito o organismo. O livro fala, enfim, da necessidade urgente de investigar a origem da tristeza do paciênte, antes de transformá-lo num doente dependente de comprimidos para enfrentar as situações da vida. Horowitz finaliza com um alerta:

A indústria farmacêutica ganha muito dinheiro com antidepressivos. Promove esses produtos com anúncios mostrando pessoas felizes, que superaram seus problemas ao engolir uma pílula. É uma cena comum apresentada na publicidade. São casais, pais e filhos em situações do cotidiano, da família, do trabalho, que estão bem graças a um remédio. É um marketing poderoso e perigoso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário